DE REPENTE, LIS

A vida de Jefferson Silva diagnosticado com a Síndrome do Homem Encarcerado ou Locked In Syndrome (termo em inglês mundialmente conhecido pela sigla LIS)


Ser tratado como bebê

Sou tratado atualmente como um bebê. Já não ligo quando erguem minhas pernas e passam pomada nas minhas virilhas quando aparece uma assadura.

Me movem conforme seja melhor para mexer em mim. Geralmente, isso acontece depois do banho e minha esposa mexe nas minhas partes íntimas e a enfermeira de plantão é obrigada a assistir a cena. 

Me dão comida na boca ou que consigo engolir. Geralmente, minha mãe faz uma comida pastosa para eu poder engolir. Eu não tenho controle do que é colocado na minha boca e o alimento passa direto pro meu estômago sem mastigar. Na verdade, eu amasso um pouco o alimento no céu da boca e engulo. Tudo de maneira involuntária. Sinto o gosto, tenho vontade de morder e mastigar, mas o corpo não obedece. Geralmente, minha esposa, minha mãe ou minha filha me dão comida. Os enfermeiros Evelyn e Guto também dão. 

O engraçado é que minha esposa, mãe e filha vão me dar comida e se distraem com a televisão. Às vezes, nem é uma matéria interessante e eu fico de boca aberta esperando comida enquanto elas ficam prestando atenção na TV. A comida é me dada na boca, feito um bebê. Quando eu era normal eu comia muito bem e não recusava nada. Receber comida na boca e depender de outra pessoa para comer alguma coisa que você não escolheu para comer é uma coisa que nunca imaginei passar. Com 48 anos, ser tratado na boca é humilhante. Porém, ainda tenho minha família para ajudar. Sem eles, NADA seria possível. 



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