Fizeram dois buracos em mim. Um na altura do meu estômago para entrar medicamentos e dieta através de uma mangueira colocada neste buraco e outro no meu pescoço na altura da minha traquéia e colocaram um dispositivo o qual, chamam de traqueo. Esta traqueo é aspirada várias vezes no dia. Este dispositivo acumula secreção e saliva. A sensação de ser aspirado é extremamente ruim. Não aconselho ninguém a assistir alguém ser aspirado. Acho que a sonda entra em contato com alguma parte interna do corpo que dá um reflexo de tosse. O engraçado é que meu tronco é projetado para frente e minhas pernas são jogadas pra cima e eu não tenho os movimentos do corpo. Eu já me acostumei com isso. Afinal, faz quatro anos que estou assim.
O fato de eu não mexer ou falar me deixa extremamente incapaz pois tento chamar atenção e não consigo emitir som algum. Meu bumbum dói muito se fico muito tempo na mesma posição. Eu tenho o osso da coluna prolongado um pouco para baixo. O que justifica a dor. Isso já me incomodava antes do AVC e eu estava pensando em fazer uma cirurgia para consertar isso. Até no médico eu fui poucos dias antes do AVC.
Sentimento ruim é quando coça alguma parte do corpo, por exemplo, os olhos. A coceira permanece pois eu não consigo coçar. Desta forma, aprendi na prática o significado da palavra tortura.
Se estou vivo até hoje se deve aos cuidados intensos dos meus familiares. Minha mãe que sempre fez a minha comida e sempre está limpando o meu quarto. Meu irmão, Juninho, que me carrega para todo lado e faz exercícios comigo. Ele trabalha um dia e folga três. Ele me leva nos médicos, consultas e exames.
Minha esposa é um caso à parte. Não sabia que ela era tão forte. E já temos vinte e três anos juntos. Não sei como ela está comigo ainda. Não era qualquer uma que iria aguentar o tranco. O que ela já passou nestes quatro anos, não dá para descrever. É ela que me dá banho todos os dias. Ela é quem me leva ao banheiro. Como eu não tenho a função dos músculos, eu não controlo o 1 e o 2. Descobri há uns dois anos que um supositório de glicerina me ajuda na evacuação. Antes, eu sofria muito . Até fecaloma se formava e sangrava muito. E a Eliete sempre do meu lado. O xixi é coletado através de uripen que ela coloca todo dia. O uripen consiste numa espécie de camisinha furada na ponta, onde se conecta ao coletor de urina através de uma mangueira. Assim, eu não me preocupo. O fato de sempre ter uma pessoa do meu lado, nesta hora, mesmo que seja minha esposa, é algo inaceitável para mim. Uma coisa que era para ser natural é para mim um grande martírio.
Deixe um comentário