DE REPENTE, LIS

A vida de Jefferson Silva diagnosticado com a Síndrome do Homem Encarcerado ou Locked In Syndrome (termo em inglês mundialmente conhecido pela sigla LIS)


Frequentar Centros de Reabilitação

Há uns dois anos atrás, meu irmão , arranjou um Centro de Reabilitação para mim. Não gostava do ambiente, mas ia porque era tudo gratuito. O lugar era cheio de deficientes e cadeiras de rodas. Se via de tudo naquele lugar. Ficava olhando as diferentes situações e pensava que a minha situação era a pior de todas. 

Fazia fisioterapia e psicologia. Vinte e cinco minutos cada sessão. Eu fazia fisioterapia em lugar cheio de aparelhos e misturado com outras pessoas. Lembro de uma moça, que era atendida no mesmo horário que o meu, tinha dificuldade para caminhar sozinha. Ela utilizava uma pessoa, como apoio, eu acho que era a mãe dela. Era bonito ver ela subindo uma rampa, com corrimão, sozinha. Cada passo, era uma vitória que ela comemorava. 

Apesar de ser um lugar de recuperação, todos os colaboradores tratavam as pessoas com indiferença e falsidade. O que realmente importava eram as horas trabalhadas. Também, o ambiente não ajudava pois só haviam deficientes físicos ou neurológicos ou os dois ao mesmo tempo. Depois da sessão de fisioterapia tinha psicologia. A moça que me atendia, tirou uma foto da tabela alfabética e anotava as letras que eu escolhia para formar frases. Tive uns quatro atendimentos com ela. Estava fluindo quando ela apareceu com outra moça. Ela falou que ia sair e outra moça iria assumir. Ela viu como a gente se comunicava e a sessão seguinte já estava sozinha. 

Ela me perguntou se podia me ajudar em alguma coisa e por que eu estava ali. Disse que na verdade queríamos outra clínica, mas tinham falado pra nós que teríamos que passar por ali primeiro e tinham prometido cadeira de rodas, sobre minha medida, e órteses para as mãos. Eu já tinha ganho para minhas pernas. Ela, rapidamente, me deu alta, conversou com o fisioterapeuta, via telefone, depois pessoalmente para me liberar. Eu vi uma correria danada e em questão de minutos eu estava fora do prédio aguardando esperando minha baixa com a promessa que meu nome não iria sair da lista de espera para ganhar a cadeira e a órtese. Já se passaram dois anos e ainda não fui chamado.

Neste lugar, eu também tive duas consultas. A médica era muito louca. Na segunda consulta meu irmão e minha esposa estavam juntos. A médica fazia de conta que estava com o meu prontuário na tela do computador enquanto lia uma relação de medicamentos que eu não tomava e meus familiares não notaram. Como eu não falo e não me mexo, assisti a tudo sem poder falar nada. 

A impressora não funcionava para imprimir uma requisição de um exame. Ela deu um monte de comandos para imprimir sem sucesso, esboçou chamar alguém para ajudar pois estava travando uma batalha para imprimir uma folha de papel. Enfim, ela viu que o cabo da impressora não estava conectado ao computador e eu assistindo tudo aquilo impossibilitado de dizer algo. Ela imprimiu o que queria e nos liberou. E, assim,  aconteceu o que eu mais queria, sair daquela sala e não ver mais aquela mulher. Acho que aos atendimentos que ela fazia a outros pacientes que não se davam conta do motivo de estar ali e saber da presença dela. 

Uma coisa ela acertou. Na primeira consulta ela trocou o remédio para dormir. Eu utilizava um com duração de quatro horas, ela me deu um remédio com duração de oito horas. Foi estipulado que eu tome este remédio às dez horas da noite. Em questão de minutos eu, simplesmente, apago. Se tornou o momento mais cobiçado por mim durante todo dia pois sei que vou me desligar um pouco e esquecer que estou assim. 

Durmo oito horas ininterruptas sem acordar. Sem o remédio ficaria acordado olhando para o teto no escuro escutando o tempo passar imerso em um profundo silêncio. De certa forma, este é um período meu que fico totalmente fora do ar, não fico pensando no meu estado.

É engraçado quando estou acomodado na cadeira ou na cama com a cabeça encostada. Parece que tudo está bem e que vou levantar normalmente e seguir minha vida. A sensação termina quando tento mover algum membro do corpo ou meu corpo cai e não consigo levantar. A sensação boa termina e a realidade volta a pairar no ar verdadeiramente.



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