DE REPENTE, LIS

A vida de Jefferson Silva diagnosticado com a Síndrome do Homem Encarcerado ou Locked In Syndrome (termo em inglês mundialmente conhecido pela sigla LIS)


Faz 4 anos que saí do hospital

Hoje, dia 11/05/2024, faz quatro anos que saí do hospital e voltei para casa. Naquela ocasião se achava que eu ia me recuperar, mesmo depois de darem minha morte cerebral na primeira semana de hospital. Soube disso através da minha esposa. Apenas tenho sonhos e flashes desse período. 

O que posso dizer é que não recuperei nada e que ter ficado no hospital seria a melhor opção. Até então, estar vivo já era uma vitória. Não se tinha ideia do que minha família e eu íamos passar. A esperança nos acompanhava todo o tempo. 

Desde então, sigo uma rotina de recuperação, mas nada funciona e meu corpo não reage. Ou melhor, minha cabeça pensa em fazer os movimentos, mas o corpo não responde. Minha mãe pede para eu reagir, mas eu não consigo nem falar e ela tenta adivinhar o que eu quero falar. O que me deixa mais nervoso e consequentemente ela também. 

Até agora nesses quatro anos, não dei um passo sozinho, não fiquei em pé sem ajuda de ninguém, sem tomar banho sozinho e em pé, sem ir ao banheiro sozinho, fazer minha própria barba, escovar meus próprios dentes, comer o que quiser, beber o que quiser ou sair correndo, trabalhar. Tudo isso e mais um pouco me foi tirado de repente. 

Dormi normal e acordei assim. Tive muitos sonhos no período que  fiquei no hospital. Ainda lembro dos sonhos que tive nesse período. Apesar de estar desacordado, lembro dos sonhos. Também tive alguns insights, os quais ficaram na minha mente e até hoje não sei se, realmente, aconteceu. Como ouvir duas pessoas discutindo se ia poder engolir saliva. Deduzo que estavam colocando a traqueo em mim. 

Eu não os vi, somente os escutei. Estava totalmente dopado e não senti fazer um buraco na altura da minha traquéia e outro na altura do meu estômago, bem como os exames que devo ter feito. Mexeram comigo e não acordei. Como disse, tudo aconteceu tão de repente e não pude ter reação alguma. Quando dei conta de mim, estava em uma cama de hospital tentando falar com minha esposa sem ter a mínima ideia do que tinha acontecido. 



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