DE REPENTE, LIS

A vida de Jefferson Silva diagnosticado com a Síndrome do Homem Encarcerado ou Locked In Syndrome (termo em inglês mundialmente conhecido pela sigla LIS)


Futebol

Futebol

Eu tinha uma forma física invejável. Na adolescência, jogava o campeonato suburbano de Curitiba. Atuava no meio de campo, mas corria o campo oficial inteiro. Lembro, até hoje, de um  comentário de um colega (tremendo jogador) que eu estava no ataque e defesa a todo momento. 

Até pouco tempo atrás tinha o hábito de correr. Corria muito em parques e praias junto com uma atividade física. Adorava fazer isso. Acredito que eu ter os pulmões muito bons tenha me ajudado na época que fiquei internado no hospital. Mesmo sedado, eu lembro que fiquei bastante ofegante, a ponto de achar que não ia recuperar o fôlego. Isto aconteceu em duas ocasiões, em dias diferentes, eu presumo. Perguntei para meus familiares, mas ninguém se lembra de algo parecido. 

Soube que fiquei sozinho na UTI. Desta forma, deve ter acontecido comigo e ninguém viu. Até hoje, me lembro disso. Estava desacordado e sedado, mas eu me recordo desses episódios.

Adorava jogar futebol. Na adolescência jogava praticamente todos os dias. Também joguei nas divisões de base de alguns clubes profissionais, joguei com colegas que chegaram na seleção brasileira, mas infelizmente eu não segui.

Até um pouco antes do AVC eu jogava toda semana. Também um tempo antes do AVC recebi um diagnóstico de alguns médicos que tinha perdido as cartilagens dos meus joelhos e não poderia jogar mais futebol. Se continuasse a jogar quando fosse mais velho teria que usar uma prótese. 

A notícia me abalou profundamente, não sabia que algo muito pior estava por vir. Ainda hoje, quando dobram meu joelho, um som de um copo plástico sendo amassado ressoa no ambiente, as pessoas se entreolham tentando decifrar de onde vem tal barulho.

Minha relação com o futebol é extrema. Sou daqueles que assistem um jogo por assistir. Se bem que, depois da minha doença, eu não estou conseguindo assistir aos jogos na TV. O fato de eu não poder focar me atrapalha muito. Principalmente nas imagens abertas que há a necessidade fixar o olho na jogada e meus olhos não conseguem acompanhar. 

Desta forma, eu perdi o interesse em assistir jogos na TV. Mas ainda sinto paixão pelo esporte. As vezes, sonho que estou jogando, correndo incansavelmente e fazendo lançamentos longos, como eu gostava de fazer. Daí, eu acordo e sinto a realidade. Estou imóvel em uma cama. 



Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *