DE REPENTE, LIS

A vida de Jefferson Silva diagnosticado com a Síndrome do Homem Encarcerado ou Locked In Syndrome (termo em inglês mundialmente conhecido pela sigla LIS)


Minha vida de paciente num Home Care

Várias enfermeiras passaram por aqui e deixaram alguma marca. Mas, não poderia deixar de mencionar a Keuly, o Eric, a Michele, a Patricia, a Cleo e a Claytane, o Will (o nome dele é Ildenar), a Elis e a Mari.. A Keuly ficou dois anos comigo. Ela era do turno da noite e atravessava, com o carro dela, a cidade de segunda a sexta para ficar comigo. Era moca branca de cabelos longos negros e sempre com as unhas bem feitas. Ela trabalhava em uma clínica odontológica de dia. Assim, tinha conhecimento para cuidar dos meus dentes e fazia sem cobrar. Até limpeza ela fazia. Ela era muito inteligente. Ela indicou o Eric que era um rapaz grande que só ficava comigo sábado e domingo à noite. Dia de semana ele tinha outro emprego. A Patricia cuidava muito bem de mim. Ela fazia  doces para vender e me trazia alguns brigadeiros que eu comia com extrema dificuldade. Lembro dela me dando comida. Depois de sair daqui, ela veio me visitar algumas vezes. A Michele também cruzava a cidade para me atender. Ela me carregava para todo lado e sabia a tabela alfabética decor. A Cleo cuidava muito bem de mim, apesar de não aguentar comigo, ela limpava meus dentes e fazia minha barba. Também sabia a tabela e ficava fácil a comunicação.  Ela me deu uma camisa, com uma frase motivacional, no meu aniversário. Ela não sabe mas, meu nome está escrito, na camisa, como eu assinava: Jefferson R. Silva. A Claytane impressionou desde o primeiro dia. A maranhense de baixa estatura, mas com uma tremenda força me virou na cama e me colocou no guincho sozinha. Ela também conhecia a tabela e me carregava no braço, fazia exercícios comigo e fazia minha barba. Se gabava de nunca ter deixado eu cair no chão. Mas, ela teve que ir embora para cuidar da mãe de quase cem anos no Maranhão. O Will me dava banho na cama e trocava minha fralda. Ele não concordava com aquela situação e pediu para o Home Care uma cadeira de banho. Passei a tomar banho no chuveiro com minha traqueo tampada com um êmbolo de seringa. Com a cadeira de banho podia ir até o vaso sanitário e deixar a fralda. Isso foi uma grande mudança no meu novo estilo de vida. A Elis era extremamente profissional e cuidava de mim com muito zelo. A Mari era do turno da noite. Não me lembro direito dela por ser a primeira enfermeira que cuidou de mim e eu ainda estava sob efeitos de remédios, mas sabia que ela tinha um carinho muito grande por mim.

Atualmente estou com dois enfermeiros de dia que aguentam comigo e me põem na cadeira e me levantam para descansar as costas. O Guto e a Evelyn são os enfermeiros do dia. O Guto tem idade para ser meu filho. Ele me entende com o olhar. Apesar de esquecer de dar alguns medicamentos eu me sinto tranquilo ter ele perto. Ele entende de computador e com a chegada do notebook facilitou as coisas pra mim pois ele identifica erros e me ajuda a consertar. Somente no olhar ele consegue me entender. Ele me mostrou alguns vídeos no youtube e coloca alguns filmes na netflix. Nós damos muita risada juntos. 

A Evelyn é uma pernambucana grandona que fala alto e muito e fica me perguntando direto, o que eu acho. Mas, ela se dá bem com a Eliete e as meninas e é muito atenciosa comigo. Ela sabe de toda minha rotina e segue risca meus medicamentos. Ela também ficou de noite e sabe da rotina da noite também.



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