Hoje, 03/03/24 faz, exatamente, quatro anos que eu tive o AVC. Não tem sido fácil sobreviver assim. Dependo de todos pra tudo . Às vezes, me pergunto por que ainda estou por aqui. Pois apenas existo, como é dito no filme ‘como eu era antes de você ‘. O que tenho são meus familiares que fazem de tudo para eu me sentir bem. Eu posso sentir isso vindo deles.
Ainda no andar de cima percebi a dificuldade da minha mãe em subir a escada, dentre tantas voltas que dava nos quartos das minhas filhas, pra sair um pouco da cama e do quarto. Deduzi que meu pai tinha o mesmo problema. Afinal, eles tinham setenta anos. E descer a escada comigo não estava sendo tarefa fácil. Contratamos uma arquiteta e decidimos fazer uma suíte no nosso quintal. Pedi ajuda para meu pai e vendi o carro que eu adorava. Com o dinheiro, fizemos o quarto no andar de baixo. Tudo facilitou. Minhas saídas se tornaram mais rotineiras, posso tomar sol e ir na garagem. Até dar uma volta na rua eu fui. Mas os sintomas do AVC e locked in syndrome persistem. A sensação de ter levado uma pancada muito forte na cabeça e o fato de não estar enxergando direito, ou melhor, eu enxergo bem mas, eu não consigo focar. Eu até sei onde estou mas, minha visão mudou muito. Para se ter uma ideia eu não consigo ver o rosto das pessoas na rua ou ver uma pessoa dentro de um carro em movimento.
Também fiquei com espasmos frequentemente nas pernas. Quando me sentam na cadeira, minhas pernas esticam involuntariamente e não é qualquer um que consegue dobrar. Após dobrar e colocar os pés nos apoios da cadeira, as pernas começam a tremer como se eu tivesse a doença de Parkinson. Levantando o meu joelho ou pressionando ele para baixo a tremedeira cessa. No banho ou banheiro elas também esticam. Nestes casos, as pernas ficam esticadas pois minha esposa não consegue dobrar.
Quando saio de carro é um martírio me colocar dentro do automóvel. Mais uma vez, meu irmão está envolvido. Me levam de cadeira de rodas até do lado do carro e sou projetado ao banco do passageiro feito um boneco. Neste momento, minhas pernas ficam rígidas e eretas. Meu irmão precisa dobrar as pernas para eu caber dentro do carro. Uma pessoa, geralmente o enfermeiro de plantão, ajuda ficando no banco do motorista puxando meu tronco para eu ficar melhor posicionado no banco. Eu já estou dentro do carro e minhas pernas voltam a se esticar contra a minha vontade e assim as pernas permanecem até o fim da viagem. Às vezes, meus pés ficam torcidos e eu não consigo falar ou me mexer para ajustá-los. É como se, comigo dentro do carro, minhas pernas estivessem querendo furar o assoalho do carro. Uma pessoa fica me segurando pelos ombros no banco de trás. Esta ação se faz necessária porque eu não me equilibro. Meu corpo cai para os lados e para frente, conforme o carro se move. Como eu disse antes, minha visão foi danificada também e tenho dificuldade para enxergar. Eu consigo ver onde estou, mas não consigo focar em nada. Geralmente, olho para baixo para evitar a sensação ruim de olhar para frente. A sensação é de estar flutuando sem ter o controle de nada. Se estivesse com as funções motoras normais, eu não poderia dirigir.
Voltando a casa, gostaria de mencionar a dificuldade de me tirar do chão. Para me tirar da cama e colocar na cadeira, tem que, praticamente, me carregar. E eu caí algumas vezes no chão. Como eu não me mexo, e sou muito pesado, torna-se muito difícil me tirar do chão. Eu não consigo ajudar e fico olhando o esforço das pessoas. O problema é quando as pessoas não têm força para tal feito.
Lembro uma vez que minha esposa chamou o vizinho para ajudar. Minha esposa me tirou da cama com um guincho que fica disponibilizado no quarto. Eu fui ao banheiro, comecei a escorregar e a cadeira começou a virar, minhas pernas esticaram e minha esposa, desesperada e chorando me pedia para não cair. Não daquela vez pois sabia que não poderia me tirar do chão. Eu escutava, via que não podia ajudar enquanto estava pendurado na cadeira em cima do vaso sanitário. Minha esposa disse que veio a mente dela que o vizinho poderia ajudar pois ele tinha comentado que trabalhava em home office e poderia estar em casa. Ela pegou o celular e ligou para ele e explicou a situação. Em questão de instantes ele estava ali para me consertar. A enfermeira de plantão não tinha força para levantar minha perna e assistiu tudo do nosso lado.
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